⭐ EDIÇÃO ESPECIAL – MIND THE GAP (PARTE 2 DE 3)
- Luiz Viana

- há 1 dia
- 3 min de leitura

Responsabilidade, Complexidade e Comunicação na Auditoria Independente
Esta é a Parte 2 da Série Especial Mind The Gap, inspirada na análise produzida pelo IBRACON acerca dos principais gaps de expectativas que afetam a Auditoria Independente no Brasil e no mundo.
Se você ainda não leu, a Parte 1 abordou os Artigos 1, 2, 3 e 4 — explorando os gaps de
Conhecimento, Desempenho e Evolução.
Agora avançamos para novas dimensões, igualmente críticas:
Gap de Responsabilidade
Gap de Complexidade
Gap de Comunicação
Esses temas são essenciais para compreender por que a Auditoria é frequentemente mal interpretada e como a profissão pode fortalecer sua credibilidade perante a sociedade, reguladores e usuários das demonstrações financeiras.
🎥 VÍDEO – Mind The Gap – Parte 2
👉 Assistir no YouTube: https://youtu.be/mrgfG_4Xz2I
🧠 Introdução: A Profissão que Opera Entre Expectativas e Limites
A Auditoria Independente atua em um território singular: ela é esperada por todos, compreendida por poucos e cobrada por muitos.Executivos, conselhos, investidores, reguladores, imprensa e sociedade possuem expectativas distintas — e nem sempre alinhadas às responsabilidades reais estabelecidas pelas normas.
Essa desconexão gera conflitos, questionamentos e até decisões judiciais baseadas em interpretações equivocadas sobre “o que o auditor deveria ter feito”.
Os Artigos 5, 6 e 7 do IBRACON (links oficiais abaixo) aprofundam três causas estruturais desse problema:
📄 Artigo 5 – Gap de Responsabilidadehttps://www.ibracon.com.br/wp-content/uploads/2023/12/MTG-5-Artigo.pdf
📄 Artigo 6 – Gap de Complexidadehttps://www.ibracon.com.br/wp-content/uploads/2023/07/1107MIND_THE_GAP_-_Artigo_6_-_v3.pdf
📄 Artigo 7 – Gap de Comunicaçãohttps://www.ibracon.com.br/wp-content/uploads/2023/09/0509-AJUSTADO-MIND_THE_GAP_-_Artigo_7_-_v3-1.pdf
Vamos aprofundar cada dimensão.
1️⃣ GAP DE RESPONSABILIDADE – Quem é responsável por quê?
(Baseado no Artigo 5 do IBRACON)
O gap de responsabilidade surge quando as partes interessadas não compreendem corretamente a divisão de funções entre:
Administração
Governança
Auditor Independente
Muitos usuários acreditam que o auditor:
previne fraudes,
garante controles internos,
assegura continuidade operacional,
e valida decisões de gestão.
Nada disso é verdade.A responsabilidade primária por controles, prevenção de fraudes e continuidade é da administração e do governo corporativo.
O auditor:
avalia a adequação das DFs,
testa controles relevantes para assegurar confiabilidade,
opina sobre distorção relevante.
Quando esse gap é ignorado, cria-se o terreno perfeito para frustrações, cobranças indevidas e julgamentos imprecisos. É essencial que auditores reforcem, com clareza, seus limites e competências — tanto na comunicação formal quanto em interações com stakeholders. A educação do ecossistema é uma ferramenta de governança, não apenas um ato de esclarecimento.
2️⃣ GAP DE COMPLEXIDADE – O que o público vê é muito menos do que o auditor faz
(Baseado no Artigo 6 do IBRACON)
A auditoria é uma das atividades mais complexas do universo profissional:
envolve julgamento crítico,
modelos contábeis sofisticados,
estimativas baseadas em incerteza,
avaliação de riscos,
análise de controles internos,
aplicação de normas internacionais,
e documentação robusta.
Entretanto, a sociedade enxerga apenas o produto final:um Relatório do Auditor Independente de 1 a 3 páginas.
Esse contraste cria a ilusão de simplicidade — e alimenta expectativas irreais.Quanto mais complexa a transação, mais difícil descrever todos os julgamentos e premissas de maneira simples. Além disso, eventos corporativos modernos (criptoativos, IA, operações estruturadas, fair value, ESG, riscos digitais) elevam a complexidade a um nível que não é intuitivo para o público.
O gap de complexidade não é um defeito da profissão, mas uma consequência da sofisticação crescente das demonstrações financeiras.
3️⃣ GAP DE COMUNICAÇÃO – A informação existe; o entendimento, nem sempre
(Baseado no Artigo 7 do IBRACON)
Mesmo quando o auditor executa um trabalho de alta qualidade e as responsabilidades estão bem definidas, um terceiro gap pode surgir:o de comunicação.
Esse gap aparece quando:
O relatório é tecnicamente correto, mas não compreendido;
Usuários não leem notas explicativas;
Investidores desconhecem o papel da auditoria;
A linguagem é excessivamente técnica ou jurídica;
Stakeholders interpretam mensagens de forma divergente.
O auditor é, por essência, um comunicador técnico.Mas a evolução da profissão exige que seja também um comunicador estratégico: alguém capaz de explicar riscos, julgamentos, estimativas e incertezas de forma clara, objetiva e contextualizada. O relatório de auditoria moderno (NBC TA 701 – Principais Assuntos de Auditoria) já representou um avanço nesse sentido. Porém, ainda há muito a ser feito para aproximar a linguagem da auditoria da realidade dos usuários.
⭐ Conclusão – Uma Profissão entre Expectativas, Complexidade e Diálogo
A Parte 2 da série Mind The Gap evidencia três verdades importantes:
1️⃣ A responsabilidade do auditor é grande — mas não é ilimitada.
2️⃣ A auditoria é complexa — e essa complexidade precisa ser comunicada.
3️⃣ O diálogo com a sociedade é parte central da função do auditor.
A confiança do público não depende apenas da qualidade técnica — mas da qualidade da comunicação e da compreensão mútua entre auditor, administração e os usuários.
A Parte 3 encerrará a série discutindo:
Continuidade Operacional,
Auditoria dos Auditores,
ESG e o futuro da asseguração.




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