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NBC TA 330 – Respostas do Auditor aos Riscos Avaliados

  • Foto do escritor: Luiz Viana
    Luiz Viana
  • 26 de set.
  • 4 min de leitura
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A auditoria não é um processo estático. Depois de entender a entidade e o seu ambiente (NBC TA 315) e de definir a materialidade (NBC TA 320), o auditor precisa transformar esse diagnóstico em ações concretas, desenhando procedimentos que respondam aos riscos identificados. É justamente isso que disciplina a NBC TA 330 – Respostas do Auditor aos Riscos Avaliados, uma das normas mais práticas e estratégicas do processo de auditoria.


O que a norma estabelece

A NBC TA 330 exige que o auditor projete e implemente respostas apropriadas aos riscos avaliados, e isso se reflete em quatro grandes frentes:

  1. Respostas globais aos riscos de distorção relevante: O auditor pode ajustar a estratégia geral de auditoria de acordo com o nível de risco percebido. Isso inclui: aumentar o ceticismo profissional da equipe; intensificar a supervisão e revisão de WPs; modificar a composição da equipe (envolvendo especialistas quando necessário); deslocar o cronograma da auditoria para momentos em que as informações sejam mais confiáveis; ampliar a extensão das amostras em áreas de maior risco.

  2. Procedimentos adicionais de auditoria: Além da estratégia geral, a norma requer que o auditor defina procedimentos específicos em resposta a cada risco identificado. Esses procedimentos podem incluir: Testes de controles, quando o auditor pretende confiar em controles internos para reduzir o risco de distorção; Testes substantivos, quando é necessário obter evidência direta sobre saldos ou transações. Normalmente, ambos são aplicados de forma combinada.

  3. Riscos significativos: Para riscos avaliados como significativos, a norma é taxativa: sempre são necessários testes substantivos, independentemente da robustez dos controles internos. Isso porque, em áreas críticas (como reconhecimento de receitas, provisões complexas ou transações com partes relacionadas), a possibilidade de fraude ou erro exige comprovação direta.

  4. Extensão, momento e natureza dos testes: O auditor deve ajustar a profundidade e o momento da aplicação dos procedimentos conforme a gravidade do risco. Quanto maior o risco, mais detalhados e próximos da data-base devem ser os testes. Em riscos menores, é aceitável aplicar testes mais restritos ou antecipados, desde que haja monitoramento contínuo.

  5. Documentação nos WPs: A NBC TA 330 reforça a necessidade de o auditor documentar claramente a conexão entre risco identificado e resposta aplicada. O WP deve deixar evidente o raciocínio lógico: por que aquele risco foi relevante, como foi tratado, quais evidências foram coletadas e qual a conclusão alcançada.


Como funciona na prática

A essência da NBC TA 330 é o encadeamento lógico: risco identificado → resposta planejada → execução do procedimento → evidência obtida → conclusão registrada.

Por exemplo, ao identificar risco de superavaliação de receitas, o auditor não pode se limitar a registrar essa conclusão no WP. Ele precisa detalhar quais respostas dará ao risco:

  • Incluir circularização de clientes para confirmar saldos;

  • Analisar notas fiscais emitidas próximas ao fechamento do exercício para verificar corte adequado;

  • Testar controles internos relacionados à aprovação de contratos e faturamento;

  • Reconciliar relatórios gerenciais com lançamentos contábeis.

Esse raciocínio é proporcional ao risco. Se o risco for considerado significativo, os testes precisam ser mais abrangentes, o que pode incluir revisão de estimativas, envolvimento de especialistas ou ampliação do escopo de amostras.

Outro ponto prático é que a norma não permite respostas padronizadas: não basta aplicar os mesmos testes em todas as áreas. Cada risco deve ser tratado de forma individualizada, mostrando que o auditor entendeu o contexto da entidade e adotou uma resposta sob medida.


Exemplo prático

Imagine uma construtora de médio porte que adota o método de percentual de execução (POC – Percentage of Completion) para reconhecer receitas de incorporação imobiliária.

Esse método é sensível porque envolve alto grau de julgamento: percentuais de avanço físico da obra, custos ainda a incorrer e prazos de entrega. Na NBC TA 315, o auditor avaliou como risco significativo a possibilidade de superavaliação de receitas, já que a administração poderia antecipar reconhecimento para melhorar o resultado.


Como o auditor respondeu (NBC TA 330):

  1. Respostas globais: Elevação do ceticismo profissional, principalmente nas discussões com a diretoria e engenharia. Decisão de envolver um especialista em engenharia civil para validar os percentuais de avanço das obras. Aumento da supervisão do sócio responsável sobre os WPs dessa área crítica.

  2. Testes substantivos: Circularização de clientes para confirmar contratos e valores recebidos. Comparação entre avanço físico da obra (medições de engenharia) e avanço financeiro (custos incorridos). Revisão de cronogramas de obra, avaliando se os prazos e orçamentos estavam coerentes com a realidade. Reanálise das estimativas de custos a incorrer, para verificar se não estavam subestimadas.

  3. Testes de controles: Avaliação do processo de aprovação de medições: quem aprova, como é documentado, se há evidências de revisão independente. Teste de sistema para verificar se o registro do percentual de execução permite alterações manuais sem rastreabilidade.

  4. Conclusão documentada em WP: Risco identificado: superavaliação de receitas no POC. Resposta: combinação de testes substantivos e de controles, com envolvimento de especialista. Evidência obtida: em três obras, as medições estavam compatíveis com custos e cronogramas; em uma obra, identificou-se antecipação indevida de receita, que foi ajustada pela administração. Impacto: redução do risco de distorção relevante e evidência suficiente para suportar o Relatório do Auditor.

Esse caso evidencia a lógica da NBC TA 330: cada risco exige uma resposta proporcional, prática e documentada, conectando o diagnóstico da auditoria à sua execução efetiva.


WPs (Work Papers) – o que não pode faltar

  • Descrição do risco e por que foi relevante.

  • Procedimentos definidos para responder ao risco.

  • Justificativa da escolha dos testes (controles, substantivos ou ambos).

  • Evidências obtidas.

  • Conclusões e eventuais ajustes nas DFs.

  • Revisão e supervisão adequadamente registradas.


Conexões com outras normas

  • NBC TA 315 – riscos identificados alimentam a resposta da NBC TA 330.

  • NBC TA 320 – a materialidade orienta a extensão dos testes.

  • NBC TA 500 – evidencia a qualidade do que foi obtido nos testes.

  • NBC TA 700 – fundamenta a opinião no Relatório do Auditor.


Conclusão

A NBC TA 330 é o ponto de virada da auditoria: é quando o planejamento se transforma em execução. Ela garante que cada risco seja acompanhado de uma resposta documentada e proporcional, reforçando a credibilidade do trabalho do auditor e assegurando que o Relatório do Auditor se baseie em evidências sólidas.


➡️ No próximo artigo da série, avançaremos para a NBC TA 402 – Considerações de Auditoria em Entidades que Utilizam Prestadores de Serviços, norma essencial em tempos de terceirização e dependência de sistemas externos.


🔎 Série Especial | NBC TAs Por Luiz Viana – Sócio de Auditoria na VORCON Auditoria e Consultoria


 
 
 

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